21 julho 2011

Traição – A Possibilidade de Um Novo Encontro

Para qualquer casal a traição quando acontece é naturalmente um motivo de profunda tristeza, ressentimento, frustração, surpresa, brigas.

Em cada cultura a relação com outro parceiro terá um significado próprio, mas nas culturas monogâmicas a relação extraconjugal não é aceita. Vivemos no modelo da monogamia e dentro desse modelo a proposta é de exclusividade na relação e todo terceiro é visto como um intruso, uma ameaça à dupla já formada.

No geral, o triângulo em qualquer tipo de relação costuma trazer confusões e dificuldades, seja entre amigos, no trabalho e acima de tudo na vida conjugal. Nesses cenários se repetem os mesmos movimentos, dois se unem, um se sente de fora, mais adiante a dupla muda e será um outro o excluído. À medida que todos se tornam adultos essa dinâmica passa a ser mais administrável e mais fácil, menos persecutória, mas ainda assim todos conhecem aqueles que não conseguem compartilhar amigos, que não sabem conviver em grupos de trabalho e assim por diante. De toda forma existe, em especial na vida adulta, uma área onde o terceiro não deve nunca existir, nas relações amorosas. Não há crescimento e amadurecimento que leve à uma aceitação desse tipo, somos criados na nossa cultura para sermos fiéis. Compreendemos que quando há uma escolha por um parceiro devem ficar de fora todos os outros e dentro dessa regra e desse desejo seguimos.

Acontece que precisamos perceber que a traição, quando estamos falando de casais adultos, experientes e maduros, na maioria das vezes acontece por determinadas razões, situações, sentimentos, medos, erros que levam a esse desfecho. Acima de tudo costumo acreditar que a traição tem um sentido dentro daquela dupla, ela representa um aspecto adoecido da relação em questão.

Com isso não quero dizer que não haverá dor, ressentimento, profunda tristeza, ninguém em um primeiro momento lida com a traição como um representação de aspectos de uma relação. Ela é vista e sentida prioritariamente como um golpe não anunciado. Poderia dizer que a traição é o último recurso, o último grito de que algo não vai bem, que alguém não está feliz, normalmente os casais já manifestaram suas insatisfações, mas muitas vezes não foram percebidas e eles mesmos as atropelaram. Muitos são maduros o suficiente e conseguem administrar os problemas conjugais de outra forma, brigam, discutem, conversam ou se separam, muitos porém “atuam” a dificuldade, transformam em ato aquilo que não sabem expressar.

Com tudo isso, quero apontar que nem sempre a traição acontece por falta de caráter, por malandragem (usando termos coloquiais) e muitas vezes porque aquele que trai tem uma profunda dificuldade em nomear, verbalizar e até perceber o que está sentindo, que deseja mudanças, que se sente insatisfeito. Claro que podemos sempre dizer que muitos se sentem assim e não recorrem à uma outra relação, o que é absoluta verdade e por isso o sofrimento é ainda maior, quando se está com alguém que não soube ser adulto ou maduro para abrir o jogo e expor suas questões afetivas. Também entendemos a traição como um desejo quase infantil de reparação imediata das insatisfações da vida e como uma fuga da realidade, pois é na fantasia que uma relação extraconjugal se forma e se mantém, a maioria quando confrontada com a realidade não segue adiante.

É possível compreender a traição como um gesto que leva à uma crise entre o casal e se essa crise acontecer em um casal que, apesar de tudo, deseja estar junto, deseja recomeçar, reparar os erros, retomar do ponto de onde se perderam, ela terá por fim uma utilidade, ela servirá como seta apontando para a necessidade de uma nova direção.

Toda crise conjugal tem um significado, uma razão para acontecer, a crise não precisa ser necessariamente o caminho para um ruptura, ela pode, apesar de toda a dor e sofrimento, ser um período que levará à mudanças e transformações, ao crescimento e amadurecimento, em muitos casais ao fortalecimento da relação, à um novo encontro dentro de uma antiga união.

Reencontro com a Vida, o recomeço de uma nova histor

Recomeçar, refazer, reconstruir, verbos que compartilham um mesmo aspecto, dar um novo início ao que já existe. Podemos falar de qualquer assunto amor, amizade, relações, estruturas desfeitas que buscam uma recomposição. 
Falamos aqui do amor, de uma relação e o artigo de hoje não trata daqueles que terminaram namoros ou casamentos, mas sim daqueles que perderam seus parceiros, que se tornaram viúvos, órfãos repentinos do amor conjugal e se encontram na hora do recomeço e dos conflitos que dele derivam. 
Houve uma união, um projeto de vida feito em parceria com aquele que se amava e com quem se compartilhava os dias. Juntos atravessaram a vida, construíram, cresceram, geraram e colheram. Como um golpe que chega sem anunciar acontece uma separação sem escolha, uma despedida sem outra opção. O que se sabia não se sabe mais, o que se conhecia já não se conhece mais e na ruptura da parceria os dias são difíceis para aquele que segue a vida. 
O desfazer desse amor interrompido segue de forma muito distinta daquele casal que em comunhão caminhou para a separação. É justamente a percepção da impossibilidade de uma escolha que faz com o que o tempo de cura seja possivelmente mais longo e a forma de cura mais difícil pois ainda que tivessem seus problemas conjugais a despedida não era uma alternativa. 
Chego em um ponto sobre o qual sinto grande importância em comentar para aqueles que já sentem alguma possibilidade em recomeçar, uma relação finalizada dessa forma, onde não houve o tempo necessário para a dupla, corre muitas vezes o risco de cristalizar o parceiro perdido em um lugar de profunda idealização, tornando-o um competidor impossível de ser derrotado. Muitos não percebem mas fixam um difícil padrão a ser alcançado e qualquer um que se aproxime correrá o risco de ser enormemente comparado. 
Seguindo um pouco mais percebo por meio de alguns e.mails de pessoas que vivem esse momento uma enorme dificuldade em seguir adiante, não pela falta de desejo, mas pelo surgimento da culpa. Sabemos o quanto que a dinâmica interna é conflitante para aquele que se tornou viúvo, tudo que nesse momento é pensado a respeito do que poderia ter sido feito e não se fez, do que poderia ter sido falado e não se falou, de onde poderiam ter chegado e não alcançaram. São sonhos, projetos, amores, uma união interrompida que não teve a chance da despedida e a sensação do inacabado, do incompleto pode ser grande ou devastadora demais para que um se sinta livre para voltar a viver, a desejar. 
O terceiro ponto eu diria que é o medo, medo da vida, de novas conquistas, de novas apostas, de novos golpes, de não estar forte, preparado ou reerguido o suficiente para lidar com a vida e tudo que dela advém. É uma fase, que não se sabe o tempo que dura para cada um, de grande vulnerabilidade, de profunda fragilidade e voltar a apostar na vida pode ser incerto demais, inseguro demais. 
Compartilhei três pontos em meio a muitos outros que tenho certeza existirem, acredito na relevância deles e sobre a importância em refletir sobre cada um deles e avaliar se interferem na sua busca por novas relações. Não há dívida com aquele que se foi, tudo que foi possível ser vivido certamente bastou enquanto estavam juntos, foram felizes, construíram. Lidar com a dor da perda já é um desafio grande o suficiente, permitir que a idealização, a culpa e o medo entrem em cena em intensidade desmedida apenas tornará o processo ainda mais doloroso e difícil. 
A vida continua acontecendo, é fundamental o tempo do recolhimento, da reflexão, da despedida que não pode ser feita, mas aos poucos também é importante que entre em cena a curiosidade pelo mundo que segue lá fora, pelas novas oportunidades, o desejo pelo recomeço, a aposta na esperança, o encontro e o reencontro com a vida.

O sexo é muito bom ou é a única coisa boa entre vocês?



Imagino que não reste dúvida de que todo ser humano saudável, felizmente, deseja sentir prazer. E se estamos falando de relações sexuais, essa máxima é mais que válida – é o maior intuito. Estar com quem a gente gosta, por quem sentimos desejo e vontade de compartilhar momentos tão íntimos, contribui para nossa saúde física, emocional e mental. 
Porém, o que tem me chamado a atenção, já algum tempo, é que algumas pessoas têm transformado o sexo numa espécie de bóia salva-vidas. E o termo “salvar” é no sentido literal mesmo. Só que embora seja muito bom ser salvo, o que sobra depois deste tipo de “resgate”, são sentimentos como tristeza, angústia, sensação de vazio e uma autoestima profundamente abalada. 
O que quero dizer é que sexo é realmente muito bom, mas é só uma dentre tantas “partes” que compõem um relacionamento. Além de sexo, é preciso que haja parceria, respeito, admiração, confiança, coerência, diálogo, diversão, troca, entre outros detalhes que transformam os encontros entre os amantes em algo criativo, numa ferramenta de amadurecimento e autoconhecimento. 
O que acontece em algumas ditas relações, no entanto, é que o sexo é a única “parte boa” que existe nela. Não existe diálogo, as mentiras correm soltas, a ausência é recorrente, não há confiança nem reciprocidade. Muitas vezes, não existe sequer carinho – a não ser na cama, e olhe lá!
E o pior é que, em geral – e é isso que mais me chama a atenção – a pessoa que vai levando essa relação, mesmo a despeito de vários alertas de amigos e familiares, costuma argumentar sobre a insistência e a dificuldade de rompimento justamente alegando que o sexo é muito, muito bom. Há quem diga que é per-fei-to. 
Fico me perguntando se pode ser possível, de verdade, de modo autêntico e saudável, uma relação sexual ser tão boa assim se é praticamente o único momento em que há uma nesga de prazer entre duas pessoas. Reles momentos... E o resto? E os corações? E as expectativas? E a amizade, a parceria, a possibilidade de ajuda mútua? E a entrega? 
Sim, sei que o sexo pode até ser bom. E provavelmente é mesmo! Na verdade, o que quero dizer é que quando um único quesito passa a ser considerado o arrimo de sustentação de uma relação, esse quesito termina funcionando como um entorpecente, como se fosse uma droga. A pessoa vicia naqueles momentos de prazer e depois, paga um preço algo. Amarga os efeitos colaterais. O que sobra, na maioria das vezes, é a sensação de ter sido usado, de ter tido seu sentimento interrompido, desprezado, ignorado. O que sobra é fome de carinho e a esperança, quase desesperada, de que haja um pouco mais desse entorpecente, e logo! Afinal, é a única coisa boa. E, assim, fica fácil ser considerado “perfeito”. 
Pois vou dizer o que é um sexo bom, muito bom: é aquele decorrente de outros momentos e outras ocasiões também muito boas. É aquele que acontece como consequência de uma relação em que as duas pessoas podem existir, podem falar, podem reclamar e elogiar, podem ser gente de verdade, com todas as suas características legais e nem tão legais assim. 
Sexo muito bom é aquele em que os amantes se olham e se enxergam, não só como a possibilidade de um orgasmo “daqueles”, mas, sobretudo, como a chance de exercitar o afeto e se sentir parte – isso sim é perfeito!